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segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Elogio da Madrasta - Mário Vargas Llosa em versão erótica


Eu acho o seguinte: se a pessoa está a fim de ler putaria, (é essa a palavra, nem venha dar uma de santinho) tem que pegar logo de boa qualidade. Esse negócio de 50 Tons de Cinza (não li e não gostei) é coisa de mulherzinha que quer dar uma de santa mas tem vontade de ler A casa dos Budas Ditosos. Então, se vai pegar literatura erótica, pegue logo de quem sabe fazer, de um escritor que vai pesar na mão: Nelson Rodrigues, João Ubaldo Ribeiro (embora a Casa dos Budas seja exceção em sua obra, mas justamente confirma o que estou dizendo), Boccage, etc.
Foi o que fiz. Quando vi Elogio da Madrasta, de Mario Vargas Llosa, na estante da livraria, achei o título a cara de Nelson Rodrigues e pensei: aí tem coisa boa e bem escrita. Claro, quem sabe escrever, sabe mesmo, né? Não decepciona. E eu não conhecia essa veia "safadjenha" do autor de livros inesquecíveis como A Festa do Bode. Adorei! Vamos ao conteúdo.
 
Bem, é a história de uma família de Lima, no Peru, composta por pai, filho, madrasta e uma empregada que fica no meio do tiroteio. Dom Rigoberto já está no seu segundo casamento, assim como sua esposa, Lucrécia, que completou 40 anos e só agora aflorou para os prazeres da vida sexual (olha Balzac aí, gente!). O casal praticamente não tem existência própria fora da cama. Tudo gira em torno da super caliente vida conjugal dos dois, suas fantasias, suas práticas noturnas, os intermináveis rituais de asseio e embelezamento de Dom Rigoberto antes de cair nos braços da amada.
 
Mas há também Alfonso, filho do primeiro casamento de Dom Rigoberto. O medo do pai era que o menino não se desse bem com a madrasta e sua vida virasse um inferno. Acontece que é o contrário: a criança gosta muito da madrasta. Muito. Demais, se é que vocês me entendem. E , embora Fonchito seja apenas uma criança, Lucrécia não lhe fica indiferente. Aí a coisa complica.
 
É como eu digo: se vai ler, leia logo de um mestre. Da mesma forma que João Ubaldo tocou em temas tabus, Vargas Llosa também não se intimida diante de um assunto proibido, e tece a história de tal maneira que não dá pra parar antes do fim. A atenção fica presa, querendo saber o que vai acontecer em seguida. Há sempre uma tensão no ar, aquela sensação de quando a gente sabe que não deve ultrapassar certos limites mas mesmo assim ultrapassa.
 
O final, que tinha tudo pra ser meia boca, é arrebatador, assustador, arrepiante. Ao mesmo tempo em que nada é como parece ser, tudo é como a gente tinha pressentido, só que bem pior. Olha, não vou contar mais não. Tem que ler.