Eu acho o seguinte: se a
pessoa está a fim de ler putaria, (é essa a palavra, nem venha dar uma de santinho) tem que pegar logo de boa qualidade. Esse
negócio de 50 Tons de Cinza (não li e não gostei) é coisa de mulherzinha que
quer dar uma de santa mas tem vontade de ler A casa dos Budas Ditosos. Então,
se vai pegar literatura erótica, pegue logo de quem sabe fazer, de um escritor que
vai pesar na mão: Nelson Rodrigues, João Ubaldo Ribeiro (embora a Casa dos
Budas seja exceção em sua obra, mas justamente confirma o que estou dizendo),
Boccage, etc.
Foi o que fiz. Quando vi
Elogio da Madrasta, de Mario Vargas Llosa, na estante da livraria, achei o
título a cara de Nelson Rodrigues e pensei: aí tem coisa boa e bem escrita.
Claro, quem sabe escrever, sabe mesmo, né? Não decepciona. E eu não conhecia
essa veia "safadjenha" do autor de livros inesquecíveis como A Festa do Bode.
Adorei! Vamos ao conteúdo.
Bem, é a história de uma
família de Lima, no Peru, composta por pai, filho, madrasta e uma empregada que
fica no meio do tiroteio. Dom Rigoberto já está no seu segundo casamento, assim
como sua esposa, Lucrécia, que completou 40 anos e só agora aflorou para os
prazeres da vida sexual (olha Balzac aí, gente!). O casal praticamente não tem
existência própria fora da cama. Tudo gira em torno da super caliente vida conjugal
dos dois, suas fantasias, suas práticas noturnas, os intermináveis rituais de
asseio e embelezamento de Dom Rigoberto antes de cair nos braços da amada.
Mas há também Alfonso,
filho do primeiro casamento de Dom Rigoberto. O medo do pai era que o menino
não se desse bem com a madrasta e sua vida virasse um inferno. Acontece que é o
contrário: a criança gosta muito da madrasta. Muito. Demais, se é que vocês me
entendem. E , embora Fonchito seja apenas uma criança, Lucrécia não lhe fica indiferente. Aí a coisa complica.
É como eu digo: se vai ler,
leia logo de um mestre. Da mesma forma que João Ubaldo tocou em temas tabus, Vargas
Llosa também não se intimida diante de um assunto proibido, e tece a história
de tal maneira que não dá pra parar antes do fim. A atenção fica presa,
querendo saber o que vai acontecer em seguida. Há sempre uma tensão no ar,
aquela sensação de quando a gente sabe que não deve ultrapassar certos limites
mas mesmo assim ultrapassa.
O final, que tinha tudo pra
ser meia boca, é arrebatador, assustador, arrepiante. Ao mesmo tempo em que
nada é como parece ser, tudo é como a gente tinha pressentido, só que bem pior.
Olha, não vou contar mais não. Tem que ler.
Vou ler. Fato!
ResponderExcluirSó a título de curiosidade: Cinquenta Tons de Cinza saiu numa lista para "livros para idiotas".
[risos]
O mais impressionante de Llosa é que consegue agradar até o público que lê e gosta de livros como "Marley e eu" e afins. Ou seja, além de bem escrito, é o tipo de leitura que pode ser recomendada,sem medo, para qualquer pessoa.
ResponderExcluirBoa dica, Holandinha! Poderá ser meu próximo.