Preciso começar o post
dizendo que muitas (MUITAS) vezes os títulos que os filmes estrangeiros recebem
quando chegam ao Brasil colocam tudo a perder. Por que será que as distribuidoras
colocam títulos tão ruins que fazem a gente rejeitar os filmes sem nem vê-los?
Lembro de um que se chamava Amor Maior Que a Vida (em inglês era Waking the Dead,
ou seja, acordando os mortos, o que fazia todo o sentido com o enredo) e eu
assisti unicamente porque estava em casa com febre, chovia a baldes e eu não
tinha mais nada pra fazer. Ainda bem, porque o filme, ao contrário do nome, era
ótimo! E não tinha absolutamente nada a ver com o que o título brasileiro
sugeria.
Então esse é também o caso
do filme sobre o qual vou falar hoje. Em francês é simplesmente La Délicatesse (França, 2011),
mas a distribuidora daqui traduziu como A Delicadeza do Amor. ODEIO filme
meloso (nem por longe sou do tipo que assiste comédia romântica), e com esse
nome eu não chegaria nem perto. Só assisti porque me foi indicado por um colega
que tem bom gosto. Foi por um triz. Feita a ressalva, prossigamos.
Se você foi feliz numa época
e, de repente, perde tudo de forma brusca e sem sentido, como continua a viver? É o que acontece com Nathalie, personagem de Audrey
Tautou (de Amélie Poulin). No começo eu não estava entendendo pra onde o filme ia, porque tudo
aconteceu rápido demais: ela conheceu o amorpravidatoda, se apaixonaram,
casaram, estavam felizes, pronto. E agora?
Agora a morte, o vazio. O
vazio tão, mas tão doloroso que paralisa, e o melhor mesmo é fingir que está
tudo bem, não pensar, ir pro trabalho, comer, dormir.
Assim age Nathalie. Até que
um dia, no meio daquela dor que já dura anos e, de tão concreta, é quase
fisicamente palpável, surge Markus, um novo colega de trabalho. Do nada (tipo
oi quem é você - pá!) ela dá nele um beijo de cinema. Isso poderia levar a
vários caminhos, caso ele não fosse a pessoa mais tímida, desajeitada e inábil
do mundo, caso ele soubesse o que fazer. Mas não sabe. Nem ele, nem ela. E aí
começa uma luta de querer, de não querer, de não saber o que fazer, de tentar,
de medo, de insistir. É como quem está se afogando e busca o ar. E vão tateando
aqui e ali, errando e acertando. Quem é
você? Quem sou eu? O que estamos fazendo?
No meio disso tudo, eles também têm de lidar com as expectativas das outras pessoas. Markus não se encaixa no ideal estético do par romântico. Nathalie não parece muito "normal". Mas, afinal, relacionamentos precisam seguir padrões?
Confesso que sempre tive
certas reservas em relação a Audrey Tautou porque, pra mim,
ela fica o tempo todo tentando fazer cara de Juliette Binoche. Mas nesse filme
ela conseguiu apagar essa impressão. Sua interpretação é simplesmente incrível!
Segura, madura, sem cair na apelação fácil, consistente. E o ator que interpreta
Markus (François Damiens) também é muito bom, embora eu ache que a cara de
mamão é dele mesmo, não do personagem (hehe).
O filme é lindo, sensível
sem ser meloso, delicado, e tem passagens de um humor leve. Está longe de ser um dramalhão romântico. É uma história sobre reconstrução, sobre sentimentos e situações que todo ser
humano vai viver na vida, de uma maneira ou de outra. Quem já lidou com a morte
sabe do que estou falando. E o final é lindo, lindo!
Aqui o trailer.
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