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domingo, 18 de agosto de 2013

Os Últimos Soldados da Guerra Fria


 Acabei de ler hoje Os Últimos Soldados da Guerra Fria, de Fernando Morais (o mesmo autor de Chatô e Olga), que fala sobre as ações de espionagem entre Cuba e os Estados Unidos entre 1990 e o início dos anos 2000. O autor, claramente, toma partido: ele é pró-Cuba. O país é apresentado como vítima de conspirações orquestradas pela comunidade cubana que vive nos EUA (mas eu, que tenho mais de dois neurônios, não preciso engolir essa conversa assim, sem maiores ponderações), embora também tenha seus agentes na Flórida.
Na queda de braço entre os dois países não há bonzinhos, isso é sabido. Se, por um lado, há uma luta desproporcional entre a maior superpotência do mundo e uma pequena ilha comunista (hoje já não tanto) que tenta se manter viva depois da queda dos países da antiga Cortina de Ferro, por outro há, também, um embate entre uma democracia consolidada (tá, com inúmeros questionamentos) e uma ditadura que insiste em não largar o osso.

Ficamos conhecendo em detalhes eventos, personagens, datas e o contexto em que ocorreram. Tudo dando nomes aos bois: os nomes são reais, há fotos das pessoas citadas, há cópias de documentos, etc. Ficamos sabendo, por exemplo, que em Miami há diversas organizações anticastristas que funcionam legalmente, inclusive com registro junto às autoridades americanas (!!!), e que são sustentadas por cubanos que saíram da ilha e foram bem sucedidos financeiramente nos Estados Unidos. Assim, muitas delas dispõem de dinheiro para comprar aviões, armamento, contratar pilotos e agentes, bancar a produção de panfletos e outros materiais de propaganda ideológica. Também tomamos conhecimento de que em boa parte da América Latina funciona um mercado de terroristas mercenários, sem qualquer vinculação política ou ideológica, que por qualquer merreca topam ir a Cuba como turistas e soltar uma bomba.
Há passagens bizarras e até mesmo revoltantes, como as várias vezes em que os aviões dessas organizações invadem o espaço aéreo de Cuba e sobrevoam a capital, Havana, soltando panfletos contra Fidel Castro. E o que Cuba pode fazer? Invadir os Estados Unidos? Óbvio que não. Apenas espernear, denunciar à ONU e ficar por isso mesmo. Até o dia em que resolve abater dois desses aviões e a coisa complica.

O lado B da história é a ação dos agentes cubanos instalados em Miami. São pessoas vivendo com orçamentos apertados, tendo que trabalhar para manter o próprio sustento ao mesmo tempo em que se infiltram nas organizações para espionar. Entretanto, como falei no início, não há bonzinhos. Esses agentes não hesitam em constituir famílias nos EUA como parte de suas “atribuições”. Uma coisa calculada e planejada matematicamente e, desde o início, com prazo de validade: assim que cumprem as tarefas para as quais foram designados, abandonam esposa e filhos e voltam para Cuba sem sequer dar notícia. Algo absolutamente desumano. Também traem amigos, os parentes que ficaram na ilha e quaisquer pessoas que cruzem seus caminhos. São de uma frieza incrível.
O livro é rico em informações e em documentação, é uma pesquisa impressionante, porém por vezes se alonga demais em assuntos que poderia tratar resumidamente (Fernando Morais é prolixo, né? A gente já viu isso em Chatô). Há passagens que prendem a atenção, como a participação de Gabriel García Márquez como mediador numa troca de informações entre Cuba e a Casa Branca, e outras totalmente dispensáveis, como as longas descrições sobre a vida afetiva de alguns agentes. Enfim, indico para as pessoas que tenham realmente interesse no assunto e queiram aprofundar-se em detalhes.

Aqui o link do autor falando sobre o livro no Programa do Jô. Vale a pena ver.

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