De
vez em quando eu compro umas edições comentadas de alguns livros de que gosto
muito. Na minha cabeça, quando um livro é muito bom vale a pena saber mais e
mais sobre seu conteúdo, aprofundar mais o assunto ou mesmo conhecer algumas
curiosidades. Mas eu vou parar com essa mania. Algumas das minhas aquisições me
mostraram que as edições comentadas podem não apenas não trazer nada de
substancial que contribua com o prazer de ler o livro, como também podem tirar
toda a graça. Vamos aos exemplos.
Eu
sempre gostei (acho que como todo mundo) de Alice no País das Maravilhas. Tenho
até uma edição em inglês, capa dura, com os desenhos da edição original. Aí
achei boa ideia comprar uma edição anotada (essa aí do lado) que saiu há alguns anos. Não deveria
ter feito isso. As anotações só me fizeram ver que não há como uma pessoa
compreender perfeitamente Alice, a menos que tenha vivido na Inglaterra da era
vitoriana, tenha assinado todas as revistas de que Lewis Carroll gostava na época e tenha
lido (e compreendido muito bem) o poema Jabberwocky, também escrito por ele. Detalhe:
o Jabberwocky é um poema nonsense, o que já dificulta tudo. Ou seja: comprei
uma edição anotada só pra descobrir que não entendo nada de Alice. Além do mais,
a edição é tão, mas tão, mas tão anotada que quase não há páginas sem
comentários, e eles ocupam um terço do espaço. Podia ter passado sem essa (e,
confesso, perdeu um pouco a graça).
Quer
ver mais? Há muitos anos eu tinha começado a ler Rayuela (em português, O Jogo da
Amarelinha), de Júlio Cortázar, e tinha gostado muito. Mas alguém passou a mão
no meu livro antes que eu pudesse terminar. Aí, pouco depois, numa viagem a
Buenos Aires, encontrei uma versão anotada e não hesitei em comprar, sem nem
folhear. Decepção. A tal edição, pra começar, veio com uma introdução de 94
páginas e, ainda, uma bibliografia de referência. Peraí, né? 94 páginas de
introdução? Claro que ignorei-as completamente e fui direto para o livro. Mas
não adiantou. Praticamente a cada página tem uma nota de rodapé, explicando as
minúcias das minúcias, uma coisa totalmente desnecessária. Exemplo: “pela
primeira vez, o relato passa à terceira pessoa”. A não ser que você seja muito
retardado, não precisa explicar que o relato passou à terceira pessoa, né? Tem
outros absurdos, como uma nota explicando o que é a torre Eiffel. Genteeee!!!!
Se a pessoa não tem uma informação dessa, desculpe, mas é semi-analfabeta e não
tem nem condições de estar lendo o livro, pra começar. Larga Rayuela e vai ler Paulo
Coelho. Como se não bastasse, ainda tem mais um detalhe: a
história se passa em Paris, e o comentador, achando pouco, dá TODOS os
endereços das ruas e dos locais por onde os personagens andam, e algumas vezes coloca até fotos delas. É chato. Mas
muito, muito, muito chato.
Às vezes eu penso que algumas das pessoas que se encarregam de fazer os comentários dos livros só querem mostrar o quanto são “sabidas”, eruditas e o quanto entendem da obra. Só que botam tudo a perder, porque a única coisa que eu consigo pensar é no quanto devem ser chatas pessoalmente.
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