De
onde viemos? Quem somos? Quem eram os nossos antepassados? Eu, brasileira,
nordestina, mestiça, onde estão minhas raízes?
Os
mitos de criação de todos os povos tentam explicar. A Bíblia diz que
somos, todos os seres humanos, descendentes de um único casal: Adão e Eva. Para
os índios, Tupã fez os seres humanos com argila e outros ingredientes e,
depois, soprou vida nos seus narizes. Os maias contavam que fomos criados
do milho.
O
certo é que a ciência já demonstrou que o ser humano é o resultado de um longo
processo de evolução, junto com as demais espécies desse planetinha djilícia! E
a genética vem ajudando a encontrar nossas raízes ancestrais. É disso que trata
As Sete Filhas de Eva.
O
autor, Bryan Sykes, é geneticista da Universidade de Oxford. Participou, dentre
outras pesquisas importantes, dos estudos com o Homem do Gelo (batizado de Ötzi),
aquela múmia famosa encontrada nos Alpes italianos. Descobriu, inclusive, descendentes
diretos de Ötzi vivendo hoje na Europa.
Pois
bem. Sykes estava por ali, no seu laboratório, estudando os genes do Homem de
Gelo, quando teve um momento “eureka”, desses que os cientistas têm de vez em
quando: estudar profundamente o DNA mitocondrial, que, por suas características
únicas, pode revelar as origens da humanidade.
Como
assim, tia Holanda? Assim: nós temos dois tipos de DNA nas nossas células. O
primeiro é o que fica no núcleo celular. É aquele que herdamos metade do pai,
metade da mãe. O segundo é um DNA que fica fora do núcleo das células, no
citoplasma, mais especificamente nas mitocôndrias (não sabe o que é isso não?
Vai no Google e olha, que é difícil de explicar aqui). Esse segundo tipo a
gente herda somente da mãe, porque ele fica no citoplasma do óvulo e no flagelo
do espermatozoide. Como o flagelo se perde no momento da fecundação e não entra
no óvulo, a gente fica, em termos mitocondriais, só com o da mãe mesmo.
O
momento eureka nisso é que, se herdamos só da mãe o DNA mitocondrial, é possível
traçar, estudando-o, uma linha contínua que vai de filha para mãe, avó, bisavó,
tataravó... até o início da humanidade. Mas sempre pelo lado materno. Assim, eu
posso saber se minha tatataravó veio da Europa, da Ásia, da Polinésia, etc.
Pois
o danado do Sykes se pegou com o DNA mitocondrial e conseguiu descobrir coisas
incríveis. Por exemplo: todos os europeus da atualidade descendem de apenas
sete mulheres (as sete filhas de Eva - dããã!!!). E estas, por sua vez,
descendem de outras, ainda mais antigas, nascidas na África. Resumindo: todos
os seres humanos do mundo atual descendem de apenas 30 mulheres. Crescei e
multiplicai!
Ele
fala com muita sensibilidade e inteligência sobre cada uma dessas sete
mulheres, o contexto material e cultural e a época em que viveram. A cada uma
dá um nome e para cada uma cria uma história que nos ajuda a visualizar o tipo
de vida que tiveram. É maravilhoso!
O
livro em si é ótimo de ler. O assunto pode ser meio cascudo, mas o autor
consegue explicar de forma fluente, leve e muito bem humorada. Como na passagem
em que ele conseguiu extrair DNA de uma múmia de nove mil anos encontrada na região
de Cheddar (a do queijo) na Grã Bretanha, e comparou com o DNA da população
local atual, inclusive com o Lorde da região.
“Quando
recebemos o resultado, não foi surpresa que Lord Bath não fosse aparentado com
o Homem de Cheddar. Não havia razão especial para que fosse. Mas seu mordomo, Cuthbert,
um dos que haviam doado amostras durante minha visita a Longleat, tinha a mesma
sequência. De repente ele podia alegar uma antiguidade familiar que se estendia
por nove mil anos, fazendo o pedigree de quinhentos anos da família Thynn
parecer distintamente nouveau. Perguntei a Lord Bath como Cuthbert recebera a
notícia. Será que mudara sua atitude para com a aristocracia?
-
Bem – respondeu ele com um sorriso -, ele tem se sentido muito seguro
ultimamente.”
Uma
nota pessoal
É
interessante que eu tenha lido esse livro justamente agora. Cerca de uma semana
depois que terminei de lê-lo, minha avó materna, vó Nanú, faleceu (exatamente
quatro dias atrás). Eu vinha fazendo tantas reflexões sobre meu lugar no mundo,
sobre minha identidade, minhas origens...
Quero
deixar aqui minha homenagem para Ana Maria, Nanú. Meu DNA mitocondrial, meu
sangue, meu coração, minha ancestral. Eu, Holanda, filha de Socorro, filha de Ana
(Nanú), filha de Cirila, uma italianinha que veio para o Brasil ainda
adolescente. De qual das sete filhas de Eva Cirila descendia? De qual delas
Nanú, Socorro e eu? Somos todas galhos de uma árvore imensa, cujas raízes se
perdem na névoa do tempo. Obrigada, minha vó, por estender seus galhos até mim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário