Páginas

terça-feira, 23 de julho de 2013

As Sete Filhas de Eva


De onde viemos? Quem somos? Quem eram os nossos antepassados? Eu, brasileira, nordestina, mestiça, onde estão minhas raízes?

Os mitos de criação de todos os povos tentam explicar. A Bíblia diz que somos, todos os seres humanos, descendentes de um único casal: Adão e Eva. Para os índios, Tupã fez os seres humanos com argila e outros ingredientes e, depois, soprou vida nos seus narizes. Os maias contavam que fomos criados do milho.

O certo é que a ciência já demonstrou que o ser humano é o resultado de um longo processo de evolução, junto com as demais espécies desse planetinha djilícia! E a genética vem ajudando a encontrar nossas raízes ancestrais. É disso que trata As Sete Filhas de Eva.

 
O autor, Bryan Sykes, é geneticista da Universidade de Oxford. Participou, dentre outras pesquisas importantes, dos estudos com o Homem do Gelo (batizado de Ötzi), aquela múmia famosa encontrada nos Alpes italianos. Descobriu, inclusive, descendentes diretos de Ötzi vivendo hoje na Europa. 

Pois bem. Sykes estava por ali, no seu laboratório, estudando os genes do Homem de Gelo, quando teve um momento “eureka”, desses que os cientistas têm de vez em quando: estudar profundamente o DNA mitocondrial, que, por suas características únicas, pode revelar as origens da humanidade.

Como assim, tia Holanda? Assim: nós temos dois tipos de DNA nas nossas células. O primeiro é o que fica no núcleo celular. É aquele que herdamos metade do pai, metade da mãe. O segundo é um DNA que fica fora do núcleo das células, no citoplasma, mais especificamente nas mitocôndrias (não sabe o que é isso não? Vai no Google e olha, que é difícil de explicar aqui). Esse segundo tipo a gente herda somente da mãe, porque ele fica no citoplasma do óvulo e no flagelo do espermatozoide. Como o flagelo se perde no momento da fecundação e não entra no óvulo, a gente fica, em termos mitocondriais,  só com o da mãe mesmo.

O momento eureka nisso é que, se herdamos só da mãe o DNA mitocondrial, é possível traçar, estudando-o, uma linha contínua que vai de filha para mãe, avó, bisavó, tataravó... até o início da humanidade. Mas sempre pelo lado materno. Assim, eu posso saber se minha tatataravó veio da Europa, da Ásia, da Polinésia, etc.

Pois o danado do Sykes se pegou com o DNA mitocondrial e conseguiu descobrir coisas incríveis. Por exemplo: todos os europeus da atualidade descendem de apenas sete mulheres (as sete filhas de Eva - dããã!!!). E estas, por sua vez, descendem de outras, ainda mais antigas, nascidas na África. Resumindo: todos os seres humanos do mundo atual descendem de apenas 30 mulheres. Crescei e multiplicai!

Ele fala com muita sensibilidade e inteligência sobre cada uma dessas sete mulheres, o contexto material e cultural e a época em que viveram. A cada uma dá um nome e para cada uma cria uma história que nos ajuda a visualizar o tipo de vida que tiveram. É maravilhoso!

O livro em si é ótimo de ler. O assunto pode ser meio cascudo, mas o autor consegue explicar de forma fluente, leve e muito bem humorada. Como na passagem em que ele conseguiu extrair DNA de uma múmia de nove mil anos encontrada na região de Cheddar (a do queijo) na Grã Bretanha, e comparou com o DNA da população local atual, inclusive com o Lorde da região.

“Quando recebemos o resultado, não foi surpresa que Lord Bath não fosse aparentado com o Homem de Cheddar. Não havia razão especial para que fosse. Mas seu mordomo, Cuthbert, um dos que haviam doado amostras durante minha visita a Longleat, tinha a mesma sequência. De repente ele podia alegar uma antiguidade familiar que se estendia por nove mil anos, fazendo o pedigree de quinhentos anos da família Thynn parecer distintamente nouveau. Perguntei a Lord Bath como Cuthbert recebera a notícia. Será que mudara sua atitude para com a aristocracia?
- Bem – respondeu ele com um sorriso -, ele tem se sentido muito seguro ultimamente.”

 
Uma nota pessoal

É interessante que eu tenha lido esse livro justamente agora. Cerca de uma semana depois que terminei de lê-lo, minha avó materna, vó Nanú, faleceu (exatamente quatro dias atrás). Eu vinha fazendo tantas reflexões sobre meu lugar no mundo, sobre minha identidade, minhas origens...


Quero deixar aqui minha homenagem para Ana Maria, Nanú. Meu DNA mitocondrial, meu sangue, meu coração, minha ancestral. Eu, Holanda, filha de Socorro, filha de Ana (Nanú), filha de Cirila, uma italianinha que veio para o Brasil ainda adolescente. De qual das sete filhas de Eva Cirila descendia? De qual delas Nanú, Socorro e eu? Somos todas galhos de uma árvore imensa, cujas raízes se perdem na névoa do tempo. Obrigada, minha vó, por estender seus galhos até mim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário